Inovação incomoda muita gente!

Como lidar com os efeitos da perturbação causada pela inovação?

- Essa tal de inovação só incomoda. Me deixe em paz! Não se mexe em time que está ganhando!
Esse tipo de conversa se você não ouve nos corredores pode ser porque as pessoas pensam, mas não falam.
A busca pela inovação incomoda. Causa perturbação, tal uma pedra lançada no lago. E faz tremer as estruturas em diferentes níveis de intensidade.  Quanto mais radical a inovação, ou, quanto maior o grau de “novidade”, maior a sacudida.
Vamos imaginar um produto (bem ou serviço) inovador, prestes a ser lançado. A área de desenvolvimento fica apreensiva pois uma falha neste momento pode gerar um grande prejuízo. A área de operações (que vai executar o serviço ou fabricar o item tangível) tem que se adaptar, com mudanças desde pequenos ajustes até grandes investimentos. A área comercial vai ter que aprender tudo sobre o novo item do portfólio: características, funcionalidades, vantagens e desvantagens, forma de uso. Já o suporte ao cliente vai ter que estar preparado para uma avalanche de solicitações, situação típica de novos produtos para os quais o cliente precisa de um tempo de aprendizagem.
Ou seja, todo mundo se incomoda e como resultado em algumas organizações temos quase um “todo mundo odeia a inovação” (parafraseando um seriado famoso de décadas passadas que ainda passa na TV).
E então, como lidar com isso? Bom, aí depende!
- Mas como assim depende? Isso não é resposta!
E aqui abro um (parêntesis) ...
Durante minha formação acadêmica fui ensinado que “depende” não é resposta. Hoje vejo que sim, pois achar que há uma resposta certa para toda situação é acreditar em fórmula mágica, que resolve qualquer coisa. Cada situação deve ser avaliada, se possível caso a caso, e se não for possível ao menos buscar esse olhar individual, ao menos com respeito às particularidades e condições momentâneas... Sabe aquele lance de “empatia”?
Bom, mas continuando, a forma de lidar com a resistência às propostas inovadoras pode ser diferente, de acordo com o tipo de organização. Dividi, para esta análise as organizações em três tipos:
  • Organizações puramente inovadoras (startups)
  • Organizações maduras que não acreditam em inovação
  • Organizações maduras que focam em inovação
Primeiramente vamos às startups ... mas antes, qual o conceito de startup?
Muitas pessoas dizem que qualquer pequena empresa em seu período inicial pode ser considerada uma startup. Outros defendem que uma startup é uma empresa com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada vez maiores. Mas há uma definição mais atual, que parece satisfazer a diversos especialistas e investidores: uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.
Yuri Gitahy, na Revista Exame em Fev de 2016
http://exame.abril.com.br/pme/o-que-e-uma-startup/

Fica claro que uma startup é uma proposta de inovação, do tipo “modelo de negócios”. Tudo é incerto, tudo é descoberta. A inovação está no DNA da organização. Portanto, não há porque falar em resistências à inovação. É preciso, no entanto, adotar práticas de gestão da inovação alinhadas com este tipo de ambiente, para reduzir o risco de insucesso do empreendimento. Não dá para fazer "tudo" apenas na base da emoção. As vezes o modelo de negócio proposto é ótimo, e resolve dores do público alvo, mas falhas na execução fazem tudo ir por água abaixo.
Já nas organizações maduras que não acreditam em inovação tudo que é novo é alvo de resistência - muita resistência - que chega muitas vezes à sabotagem. Qualquer proposta de inovação é rechaçada de imediato pelas pessoas em geral, e de forma não tão aparente pela alta administração, que muitas vezes usa a tática de ganhar pelo cansaço, ou seja, a princípio elogia as iniciativas com potencial inovador mas na verdade vão jogando barreiras, buracos, redes, telas ... tudo que prejudica o fluir os projetos que se propõem a gerar algo novo e impactante. Este é o pior cenário para quem quer inovar, e há dois caminhos: bancar o herói e aos poucos quebrar esta resistência, apresentando pequenos mas sucessivos resultados (fast wins), ou então partir para outra! Se você decidir pela primeira opção, respire fundo, tenha paciência mas saiba que há organizações extremamente tradicionais que conseguiram virar a mesa – talvez não em um só movimento, mas inclinando aos pouquinhos até tombar.  
Organizações maduras que focam em inovação ainda possuem muitos apegos às práticas vigentes, possuem pessoas e processos que vão na contramão da inovação, mas já formaram uma massa crítica que participa em todas as etapas do desenvolvimento de inovações, da ideação até o pós-lançamento/pós implantação. Talvez o sucesso de inovações passadas dê aquela autoconfiança, que se for demasiada pode fazer com que se baixe a guarda, reduzindo os esforços para inovar. Deve-se manter o usuário/cliente/cidadão como foco do desenvolvimento de novas soluções, e não deixar que a síndrome do “eu sei o que o cliente precisa” prevaleça.
E por fim, vejo com um bom indicador do potencial inovador de uma ideia ou conceito: o quanto burburinho e críticas se gera em toda a organização. Se ninguém questionar, ninguém reclamar, nas organizações maduras, é porquê se trata de no máximo uma melhoria ou inovação incremental. Já nas startups acredito que é mais fácil identificar o potencial inovador, bastando ver nos olhos, emoções e ações dos colaboradores a adrenalina de uma nova jornada de descoberta.

E você, anda incomodado com a inovação, ou está “perturbando” muita gente com suas propostas de novos produtos, processos, arranjos organizacionais e modelos de negócios?
Forte Abraço,
Paulo Manoel Dias
https://www.linkedin.com/in/paulo-manoel-dias-a999a760/


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