Criatividade não é inovação!

Pode existir um abismo entre criatividade e inovação. 

Já fiz algumas pesquisas sobre criatividade, apesar de não ter publicado nenhum artigo sobre elas. Quem sabe ainda sai?

Nestas pesquisas peço aos participantes para registrar, sem consulta prévia, o conceito de criatividade no entendimento deles. Na maioria dos casos, as pessoas sabem definir adequadamente o que é criatividade, já que é um termo bastante comum. 

Mas há quem confunda criatividade, com inovação. E são dois conceitos bem diferentes. Vou tentar explicar aqui então, para quem ainda não tiver a clareza da diferença entre criatividade e inovação, o que distingue os dois termos. Vamos lá?

Em primeiro lugar criatividade é uma competência humana. Pessoas são criativas, todas elas. Algumas mais outras menos. Uma pessoa pode ser altamente criativa, sem nenhum ter contribuído para uma inovação. 

Reunir um grupo de pessoas altamente criativas pode não resultar em nenhuma inovação!

A inovação é um resultado, é fruto de um processo que inicia com a identificação de uma oportunidade, passa por algum tipo de análise de viabilidade, e é aceita pelo mercado, se visar lucro, ou pela sociedade, no caso da inovação social. 

Para algo ser considerado uma inovação precisa ser desenvolvido, lançado e ter sucesso. Digamos que seja um novo produto (bem ou serviço). Pode ser uma maravilha da tecnologia. Pode ser único e exclusivo. Pode despertar curiosidade. Mas se não chegar ao mercado, se for comprado não é inovação. É no máximo novidade. 

Em um brainstorming podem ser geradas muitas propostas criativas de solução de um problemas, ou de criação de algo novo. É um começo, pode resultar em uma iniciativa promissora. A inovação é um fim, uma "acabativa" já validada.  

E será que toda inovação decorre de uma ou mais ideias criativas? 

Pense bem. 

Digamos que um empresário vai em uma viagem e vê no check in de um hotel uma nova forma de processo de autoatendimento. Ao retornar para a rede de restaurantes do qual é sócio, este empresário introduz o mesmo processo que experimentou no hotel, com pequenas modificações, para usar no autoatendimento dos clientes do restaurante. Isso resulta em ganhos e maior satisfação dos clientes Isso é inovação. Sim, pois foi a primeira introdução daquela tecnologia em restaurantes. Isso é criativo? Bem pouco. 

Mas, em grande parte as inovações tem na fase de ideação a aplicação da criatividade. Mesmo quando não se cria algo totalmente novo. O Uber é um exemplo de inovação em modelo de negócios. Carros já existiam. Smartphone já existiam. E mapas georreferenciados também. O que se fez foi combinar tudo isso de um jeito diferente, e combinar conhecimentos e recursos existentes é criatividade. A chamada combinatividade. 

Agora vamos pensar de outra forma. Você imaginou um determinado produto, que você nunca viu no mercado. Mas não ficou só na imaginação. Desenvolveu um conceito, detalhou. Você tem uma boa "proposta" de inovação. Aí inicia a a análise de viabilidade. E nesse momento verifica que já existe um produto patenteado praticamente idêntico ao seu. Ou seja. Você foi criativo, mas não pode lançar o produto no mercado, mesmo que ainda não exista outro igual, pois já foi patentada a mesma solução pensada por você. 

Uma outra questão é a criatividade aplicada para resolver pequenos problemas nas organizações. Uma forma diferente de realizar o convite para um evento. A simplificação de um controle. Um novo meio de comunicação para facilitar o trabalho em equipe. Soluções criativas de abrangência restrita que quando acumuladas podem gerar ganhos de eficiência que permitam liberar tempo para o desenvolvimento de algo mais impactante. 

Todos saem ganhando quando a criatividade é usada para melhorar a vida pessoal e os processos organizacionais. 

Então, espero que tenha ficado claro que em algumas situações parece haver um abismo entre a criatividade e a inovação. A boa notícia é que em muitas vezes esse abismo pode ser transposto!