Aplicando o Business Model Canvas na Gestão de Riscos Empresariais

 * Publicado originalmente com artigo no LinkedIn em meu perfil em março de 2025.

Você já deve estar cansado de ler e ouvir que vivemos em um ambiente cada vez mais dinâmico e incerto, seja VUCA ou BANI ou outra sigla para expressar a complexidade que já devem ter criado por aí. Em algum momento você pode precisar de ferramentas eficazes para identificar, avaliar e mitigar riscos. Há vários níveis de maturidade na gestão de riscos, mas principalmente nos estágios iniciais o Business Model Canvas (BMC), desenvolvido originalmente para estruturar e inovar modelos de negócios, pode ser útil para mapear riscos e desenvolver estratégias de mitigação.

Integração do Business Model Canvas à Gestão de Riscos

O BMC é uma estrutura visual, que exibe os principais aspectos de um negócio. É composto por nove blocos, ou elementos, que descrevem os principais aspectos de um negócio. Cada um desses blocos pode ser analisado sob a perspectiva da gestão de riscos, gerando discussões e análises que podem antecipar desafios e servir para criar planos de contingência, tanto para reduzir a probabilidade com o impacto de eventos negativos. Só pra lembrar, de forma simples, Risco = Probabilidade x Impacto.

                                                  O Business Model Canvas

E como cada bloco pode integrar a mentalidade de gestão de riscos? Vamos lá:

1. Segmentos de Clientes: Aqui podem ser avaliados riscos relacionados às mudanças no comportamento dos clientes, perda de mercado e surgimento de novos concorrentes. Estratégias para gerenciar riscos associados com este elemento do BMC incluem pesquisas de mercado constantes e diversificação do portfólio de clientes. Pode ser avaliado por exemplo a probabilidade e impacto da perda de clientes com grande participação na receita.
2. Proposta de Valor: Aqui podem ser avaliados riscos de obsolescência do produto/serviço ou perda de diferencial competitivo, que tornem o negócio menos desejável. Esse tipo de risco pode muitas vezes deixar de ser percebido por conta do sucesso obtido nos últimos anos, ou por conta de inovações disruptivas subestimadas (como no caso da Kodak com o surgimento da fotografia digital).
3. Canais: Riscos logísticos, falhas de distribuição e dependência excessiva de um único canal. Alternativas incluem a diversificação dos canais de vendas e digitalização da experiência do cliente. Questões de infraestrutura de um país ou região também implicam em riscos para esse elemento do BMC. Como escoar a produção para um determinado mercado por conta de um embargo ou conflito entre países?
4. Relacionamento com Clientes: Riscos relacionados à insatisfação, baixa retenção e reputação negativa. A implementação de estratégias de fidelização e monitoramento da experiência do cliente pode reduzir essas ameaças. Atenção às redes sociais e serviços de classificação de empresas também podem servir para identificar problemas de relacionamento com os clientes.
5. Fontes de Receita: Riscos de redução de faturamento devido a fatores econômicos, mudanças regulatórias ou dependência de poucos clientes. A diversificação das fontes de receita e a adoção de modelos de precificação flexíveis podem mitigar esses riscos.
6. Recursos Principais: Riscos ligados à escassez de matéria-prima, problemas de infraestrutura e perda de talentos. Investir em parcerias estratégicas e planos de sucessão são estratégias fundamentais. Importante também ter planos de contingência definidos e disseminados para o caso de indisponibilidade de recursos críticos como máquinas e instalações. O que fazer diante de um incêndio em planta industrial ou enchente?
7. Atividades-Chave: Riscos operacionais, falhas nos processos produtivos e baixa eficiência. Adoção de metodologias ágeis, monitoramento contínuo e melhoria contínua são formas de mitigação. Porém há casos que tais medidas não são suficientes, e um processo produtivo pode deixar de ser viável por conta de algum aspecto regulatório ou padrão de mercado. Por exemplo pessoas querem o produto sob medida ao invés de produzido em massa, o que exige um sistema de produção totalmente diferente.
8. Parcerias Principais: Riscos relacionados à dependência excessiva de fornecedores e parceiros. Estratégias incluem diversificação da base de fornecedores e contratos com cláusulas de contingência. Seu parceiro mais confiável de hoje pode migrar para a concorrência ou passar a ser seu concorrente direto.
9. Estrutura de Custos: Riscos financeiros, aumento de despesas operacionais e redução de margem de lucro. A eficiência operacional e o controle de custos são essenciais para minimizar impactos (muitas empresas não tem uma boa noção de seus custos, apenas do resultado final). A alta do dólar, ou mudanças significativa na legislação trabalhista ou tributária, por exemplo, podem inviabilizar a estrutura de custo no curto e médio prazo.

Conclusão

É possível e útil integrar o BMC com a gestão de riscos, seus conceitos e ferramentas. Tal mescla de abordagens facilita e identificação de riscos, bem como pode contribuir para a análise de riscos. Certamente é uma abordagem para uma visão geral devendo ser complementada com métodos mais robustos de gerenciamento de riscos, de acordo com o nível de maturidade da empresa. E quanto mais pessoas envolvidas na identificação e análise de riscos em torno do business model canvas, melhor.

O livro de minha autoria Proposta de Valor: Gerando Produtos e Serviços Desejáveis e Viáveis (Intersaberes, 2024), contempla essa discussão do uso do business model canvas para uma visão geral dos riscos empresariais.

No link abaixo você pode ler as primeiras páginas do livro (clicar no "olho" ao lado da capa):

https://livrariaintersaberes.com.br/produto/design-de-valor-criando-produtos-e-servicos-desejaveis-e-viaveis/

Link para a publicação original deste artigo no LinkedIn:
https://www.linkedin.com/pulse/aplicando-o-business-model-canvas-na-gest%25C3%25A3o-de-riscos-dias-wi8qf/?trackingId=FXYgbDIgSYWyY8blLUDFzQ%3D%3D